As coisas findas
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Mada
on 27 maio, 2008
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Diz meu poeta favorito que "as coisas findas, muito mais que lindas, estas ficarão". Eu adoro esta frase: ela diz que a beleza das coisas, das relações e acontecimentos está no seu caráter de passado.
Tudo que acabou é mais bonito aos olhos românticos das pessoas. Eu, uma exagerada natural, acho sempre que tudo que não existe mais era perfeito. Eu tenho o dom de ordenar na minha cabeça somente a seqüência de momentos incríveis que vivi, e apagar aqueles que não fazem sentido para mim. Especialmente os ruins.
Os namoros eram flores, as cidades eram bonitas, as palavras, as músicas, tudo rodopia feito redemoinho de fim de tarde na estrada de terra e forma um conjunto harmônico. Por isso, viram histórias.
O fim das coisas é uma desgraça, então romanceio tudo, fica tão bonito assim contado nas letras. Vejam:
"Dentro de uma lavanderia apertada e gelada, sentei num banco de madeira improvisado, para ouvir suas últimas palavras. Só me lembro que foram estúpidas, sem muita coerência, e que não se organizavam dentro de mim. Eu só ouvia uma coisa: fim, fim, fim."
Agora, sem romanceios. Decreto hoje que ex-namorados, ex-amores, ex-cidades serão categorias inexistentes. Eu não sou ex de nada, de ninguém, eu sou inteira, inteiramente minha, dona da minha história, do que me tornei, do que fiz e do que sou.
Inspiração
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Mada
on 11 maio, 2008
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Existem pessoas que vivem no passado. Geralmente são delicadas e têm gestos lentos. Podem ser um pouco melancólicas e apegadas, guardam objetos, cartas de amor e memórias. São pessoas mais introspectivas, gostam de fotografias e genealogias. Compram livros em sebos e fuçam as dedicatórias. Não gostam de gastar dinheiro nenhum. Falam devagar, olham nos seus olhos mas estão é pensando no horizonte logo atrás.
Outras pessoas vivem no futuro: são ansiosas. Falam e gesticulam rapidamente, têm sempre mais que uma tarefa sendo realizada ao mesmo tempo. Falam ao telefone, digitam, comem, fumam, tudo junto. Fazem perguntas demais e conjecturam demais. Nos relacionamentos, terminam antes deles acabarem, por precaução. Têm os olhos rápidos que não se fixam nos seus, são intensas e indecisas. Gastam dinheiro demais.
A pessoa que quero ser é aquela que pensa mais no momento exato em que vive, do que em qualquer outro. Eu viveria agora sabendo que escrever é o maior barato, que este beijo é bom e isso basta, que domingo à tarde é bonito e frio. Não me lembrarei de mágoas, não temerei o futuro, não sofrerei por antecipação. Gastarei o dinheiro que tenho. Serei calma e doce, dormirei tranquila, prestarei atenção na água que bebo, no ar que respiro e no amor que faço.
Cada momento será digno de histórias que não contarei, pois estarei muito ocupada: vivendo.
Outras pessoas vivem no futuro: são ansiosas. Falam e gesticulam rapidamente, têm sempre mais que uma tarefa sendo realizada ao mesmo tempo. Falam ao telefone, digitam, comem, fumam, tudo junto. Fazem perguntas demais e conjecturam demais. Nos relacionamentos, terminam antes deles acabarem, por precaução. Têm os olhos rápidos que não se fixam nos seus, são intensas e indecisas. Gastam dinheiro demais.
A pessoa que quero ser é aquela que pensa mais no momento exato em que vive, do que em qualquer outro. Eu viveria agora sabendo que escrever é o maior barato, que este beijo é bom e isso basta, que domingo à tarde é bonito e frio. Não me lembrarei de mágoas, não temerei o futuro, não sofrerei por antecipação. Gastarei o dinheiro que tenho. Serei calma e doce, dormirei tranquila, prestarei atenção na água que bebo, no ar que respiro e no amor que faço.
Cada momento será digno de histórias que não contarei, pois estarei muito ocupada: vivendo.
Explicações
Postado por
Mada
on 10 maio, 2008
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Eu já estava devendo textos e explicações a muita gente.
Todos sabem que tem algumas coisas que eu adoro. Gente, em primeiro lugar, e todas as relações que mantemos e criamos. Livros, coisas de ler, gente que lê, em segundo. E cidades novas, em terceiro.
Tenho o mesmo interesse por um cara que sentou do meu lado no ônibus, outro que encontrei em blogs pela internet, uma família que adotou uma menina de 15 anos depois de esperar por 12 anos, meus bisavós que nunca conheci, um escritor europeu dos anos 70, uma criança chutando lata na minha frente. Eu gosto é de gente.
E não tem coisa melhor para deixar este meu gostar à flor da pele, do que começar coisas tão novas em outra cidade.
Olhando assim de longe, dá uma certa impressão de instabilidade esta minha inquietude. Mas eu adoro a idéia de um amigo, tentando explicar aos outros que eu era assim mesmo: sou é apaixonada. E eu me apaixono pelas idéias, lugares e pessoas com enorme curiosidade e vontade sincera de conhecê-las. E posso me apaixonar diariamente por tudo isso, de novo. Sempre mantive relacionamentos longos, li os mesmos livros várias vezes, tive os amigos de infância no mesmo lugar. E tive dezenas de outros a cada passo que dei.
Eu morei em Sorocaba muitos anos, mas sempre avisei em casa que me mudaria para a faculdade. Nunca prestei provas aqui, só para garantir que teria a experiência de me começar em outro lugar. Fiquei em Campinas quatro anos. Cansada da mesma vida, me mudei pro Canadá. Porém, antes, tentei ir pra Argentina e Portugal - e só não fui porque não me aceitaram! Também já tentei ir pra Alemanha. No Canadá, morei em 3 casas e 2 cidades.
Voltando ao Brasil, em Sorocaba por alguns meses, ensaiando para ir embora. Fui apra Campinas somente para pular para São Paulo, graças. Sinto uma enorme alegria de me ver sozinha no mundo, começando de novo.
Veja bem, não sou uma pessoa solitária. Mas ficar sozinha é decidir se arriscar e guiar o próprio destino, ou deixar que ele te guie lentamente.
Eu adorava a capital, porque a novidade parecia infinita. Um dia, segui meu coração e me separei da paulicéia, o corpo querendo respirar ar puro e recomeçar. Mal pisei aqui, e já estou de partida novamente, desta vez para São José dos Campos. Vou novamente trabalhar com gente, muita gente, todos os dias, gente que quer voar desta vez.
Eu respeito o que me faz feliz. Lá vou eu de novo, nesta incrível experiência de saber quem se é.