As coisas findas



Diz meu poeta favorito que "as coisas findas, muito mais que lindas, estas ficarão". Eu adoro esta frase: ela diz que a beleza das coisas, das relações e acontecimentos está no seu caráter de passado.

Tudo que acabou é mais bonito aos olhos românticos das pessoas. Eu, uma exagerada natural, acho sempre que tudo que não existe mais era perfeito. Eu tenho o dom de ordenar na minha cabeça somente a seqüência de momentos incríveis que vivi, e apagar aqueles que não fazem sentido para mim. Especialmente os ruins.

Os namoros eram flores, as cidades eram bonitas, as palavras, as músicas, tudo rodopia feito redemoinho de fim de tarde na estrada de terra e forma um conjunto harmônico. Por isso, viram histórias.

O fim das coisas é uma desgraça, então romanceio tudo, fica tão bonito assim contado nas letras. Vejam:

"Dentro de uma lavanderia apertada e gelada, sentei num banco de madeira improvisado, para ouvir suas últimas palavras. Só me lembro que foram estúpidas, sem muita coerência, e que não se organizavam dentro de mim. Eu só ouvia uma coisa: fim, fim, fim."

Agora, sem romanceios. Decreto hoje que ex-namorados, ex-amores, ex-cidades serão categorias inexistentes. Eu não sou ex de nada, de ninguém, eu sou inteira, inteiramente minha, dona da minha história, do que me tornei, do que fiz e do que sou.

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