Para Sagitta - Meu muito obrigada

Eu inventei certa vez uma bonita história e fiz me ouvirem contá-la. Eu explicava com pausas nos momentos certos o nascimento, vida e morte do maior amor do mundo. Eu punha boas vírgulas, usava os dois pontos claramente: criando suspense. Os olhos verdes brilhando diante da minha voz me encantavam, e eu continuava. Criei momentos dramáticos de compaixão e admiração, temperei com arte de todos os tipos, enfiei um monte de frases da mais alta literatura goela abaixo da minha história.
Ela era para ser um conto bonito de um amor de criança, que acaba quando a infância é mastigada e cuspida no chão por um adulto crescido, mas acabou se tornando outra coisa.
A história criou vida própria. Ela inventou rumos diferentes, ela tomou estradas cheias de montanhas e música, ela subiu e desceu colinas e morros. A história resolveu se machucar, resolveu experimentar-se e ao mundo. A autora ficou sem notícias, e congelou suas palavras. Cansada e já seca dos olhos, escreveu muitas cartas pensando em um dia publicá-las. Entretanto, de sua garganta nada saía. Compulsivamente, registrava o silêncio em folhas de papel de pão com as pontas dos dedos sujos de amoras.

* Texto dedicado àqueles que nunca se vão, pois se tornaram parte de nós.

2 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Identidades Fragmentadas disse...

Uma forma particular de se expressar. O decalque completado por inúmeras leituras acaba sendo o reflexo do blog, que, com tanta destreza expressa seu ser em palavras.

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