Saudades, simples assim

Quando eu era criança já crescida, meu maior sonho era andar pela Paulista sozinha à noite, em meio àquele monte de gente saindo do trabalho, e não cumprimentar ninguém. Só andar, completamente livre, com a sensação de que ninguém se importava comigo. Poder ser quem eu quisesse, mudar, ser diferente, e voltar a ser eu sem ninguém perceber.

Impressiona ver o caráter se formando, e seus valores grudando à sua pele. E assusta ver o quão diferente fomos capaz de nos tornar.

Este fim de semana, por um motivo delicado, viajei mais de seis horas para me juntar aos meus. Fui para a pequena cidade de onde digo que sou, por orgulho e saudade. Desde o momento que o carro entrou e vi a mesma rotatória que vejo há mais de vinte anos, virei na mesma rua onde meu irmão jogava bola quando nem tinha barba, e entrei sem bater no portão que nunca está trancado, meu coração sorria aberto também. Os primeiros rostos que vi foram rostos que me amam profundamente.

Passei dois dias somente, mas recebi uma avalanche de ois e tchaus, de como vais, de olhares de preocupação e carinho sinceros. Abraços reais, conversas reais. Andando nas ruas, encontrava tios e primos, avós e parentes de toda espécie. As mesmas ruas onde passei o comecinho da minha adolescência contando os postes pra chegar em casa, sentada na mesma praça onde meus avós se casaram há sessenta anos atrás, indo à mesma feirinha que vou há tempo demais para me lembrar. Havia lá tanta gente que me conhecia desde criança, e para quem não preciso explicar nada, que me deu uma imensa preuiça de voltar pra minha própria vida.

Eu ando nas ruas da cidade que moro e olho para todos os rostos. Não reconheço nenhum. Ninguém olha para mim, e posso ser quem eu quiser. Moro novamente em um prédio onde o porteiro sabe tudo da minha vida, e cumprimento pessoas sem olhar nos olhos.

Ir embora é um parto, todos os dias. O mundo é assustador, e eu achava que iríamos calejar. Meu espírito, porém, não é desprendido como eu ou todos pensavam. Estou inundada de saudades de tudo.

3 comentários:

Rafael Calvin disse...

nostalgia é um dos setes sentimentos mais autênticos que existem!
os outros seis vc inventa!

beijos
calvin

Yara disse...

Olá, obrigada pela visita ao Uia e pelo comentário pra lá de lindo, volte sempre que quiser, viu? Gostei daqui, é blog para se ler devagarinho, saboreando :o)

Beijos procê!
Yara
www.uiaqui.blogger.com.br

André disse...
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