Toda vez, é assim. Quando a vida urge, o blog cala.
Pode parecer que gosto de falar, mas não. Então se vivo plenamente, as palavras somem de mim. Minha energia fica concentrada na vida real e sumo.
Não é por mal, é simples: é preciso viver aqui fora. E tem vez que não dou conta desta vida dupla, de viver e escrever.
Tive vontade real de fechar o blog, tirar do ar, até os textos antigos. No fim, a preguiça e a dúvida não me deixam. São tão poucos os amigos leitores, mas tão fiéis, que resolvi ser fiel a vocês e deixar estas palavras virtuais ficarem onde estão.
Unhas roídas
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Mada
on 08 setembro, 2009
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Os melhores escritores que conheço eram pessoas angustiadas. O medo, a aflição geram muitos e belos poemas. Não sou poeta, não sei fazer canções. E a aflição não me guia nesta vida.
O medo, sim. Medo de ser feliz, especialmente. Medo de me olharem doído. Medo de fazer mal.
Criada com as freiras... eis no que deu. Uma imensa culpa católica dolorida, fazedora de textos. Fazedora de unhas roídas. De dentes roídos e camas amassadas. De textos censurados, apagados.
Pra se libertar eis a receita: sobre no morro mais alto, da cidade mais limpa e gelada. Respira tão fundo que se possa ouvir de longe. Quando o ar gelado se tornar insuportável dentro de você, GRITA.
O medo passa. Viu?
Carlos, sempre me salvando o dia...
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Mada
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Não se mate
Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.
Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
Reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.
O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.
Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.
Carlos Drummond
Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.
Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
Reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.
O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.
Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.
Carlos Drummond
Filme
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Mada
on 04 setembro, 2009
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Ando de bicicleta como quem assiste um filme sem controle remoto nas mãos. Não dá tempo de voltar. Não consigo parar para ir ao banheiro. Entro nas ruas que me agradam, e também naquelas onde algo me dá náuseas. Corro a cidade na contramão, desviando de outros como eu, de pessoas andando lentas, crianças e bolas.
De vez em quando brinco de pilotar e rasgo o chão. Finjo que tenho dez anos e que aquelas três ruas são o que falta para eu chegar onde começa o arco-íris e onde moram os gnomos. Corro a roleta russa das esquinas: aqui no fim do mundo não existem outros carros, só eu.
Quase atropelo um velho. Ele mal se importa. Vejo as filas no hospital, coitados. Acelero. Vendedores à toa cuidam das portas e da minha vida. Pisco brincando. Ninguém me vê.
Entreabertos, vejo os bares e putas deitadas nas mesas de sinuca. Uma delas quase dorme. A outra, me olha e lembra que gostava de andar de bicicleta com aquele filho da puta do seu pai.
A areia me escorrega, derrapo. Mas continuo correndo e sentindo a cidade que corre em mim.
Namoradas
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Mada
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Tá certo que foi rápido, tá certo que era pra você ficar comigo. Mas terminar o namoro no dia 12 de junho não me pareceu a coisa mais certa a fazer. Ela iria te odiar pra sempre. Avisei. Não teve jeito. Acabou, você disse.
Inventei um rosto pequeno pra ela. Em meus pensamentos, ela era mignon, tinha olhos escuros e cabelos marrons, sempre me olhando meio ressabiada. Aquele dia nossa viagem de ônibus demorou, nossa carona demorou, e nossa tarde ia já acabando quando vi teus amigos pela primeira vez. Fumavam uns cinco sentados no chão. Bigode. O Pizza. Juca. Gordo.
- E eu sou a Ju-li-a-na - me disse com todas as letras bem pronunciadas, evitando o apelido, me olhando com olhos verdes imensos.
Era ela, então. Enorme. Ruiva. Preenchendo a calçada com um sorriso branco, largo e bonito.
Não tinha coragem de te olhar muito. Soltei minhas mãos das dele, como que por respeito. E você contava histórias pro pessoal, fumava e bebia com leveza. Estava se divertindo um pouco com meu mau jeito.
Precisava pegar uma cerveja, fazer qualquer coisa com as mãos. No balcão, minha garrafa já comigo, te olhei sentada no chão, o namorado mais ao longe espiando. Foi o tempo de respirar fundo e a garrafa explodiu. Em cima de mim. Acima de você. Muita espuma deslizando bonito e diretamente rumando pra sua cabeça ruiva. Não tive reação. Não me movi. Todos nos olharam esperando teus gritos e teus tapas. Eu corri os olhos para o rapaz, olhos arregalados do choque, tirou a garrafa da boca e permaneceu com ela aberta.
Olhei pra baixo em pânico. Ia se levantar. Ia gritar comigo. Ia sair chorando. Esperei tudo de você nos três segundos que ficamos paradas nos olhando.
Mas, você olhou pra cima e... riu. Gargalhou. Mostrou o resto dos dentes grandes numa risada ótima que quase me fez chorar. Eu me sentei na poça ao teu lado e rimos juntas, muito, pela primeira das muitas tardes que passaríamos juntas.
Eu aprendi a gostar de você e a sentir tua falta. Você aprendeu a respeitar o que acontecera, tirou a culpa de cima de meus ombros e me deu de presente uma amiga.
Lembra quando o namoro acabou? Te procurei pra dizer que agora sim, entendia você. E, bebericando sentada na tua cozinha, te falei:
- Poxa, cara difícil, não?
- Por isso terminamos - e sorriu.