Quem a gente é cabe em 8 horas diárias de trabalho? Não, claro que não. Veja bem: Madalena, contrato número 10.568, analista III, GS o caramba. Não diz muito.
Conheci um cara legal uma vez. Veja bem, não era um cara comum. Era um homem incrível. Ele cabia em todos os desejos fantasiosos das pseudo-metidas a intelectual como eu: olhar seguro, sorriso largo, forte, moreno de sol, o erre mais puxado do mundo pra dizendo amorrrrrr, vem cá. Aquela morenitude perfeitamente encaixada em quilômetros de 1,90m de pele. Poucas palavras. No meio da conversa, um calor absurdo, braços tão fortes meus deus... O que você faz para ter os braços assim? Ué, amorrr, eu colho laranja.
Horas depois, ele me contou que uma garota certa vez perguntou a mesma coisa (quantas terão sido?), e ao dizer que trabalhava no pesado assim, a menina simplesmente me soltou uma besteira infernal: Ah, claro. Eu tô falando sério. Tô perguntando no que você trabalha. Ele largou a moça na festa, graças o rapaz tinha muita justeza de saber quem era. Ele não era um colhedor de laranjas, era um rapaz que dizia amorrrr.
Eu sempre me perguntei o que me define como pessoa. Onde nasci? O que estudei? O que li? O que fiz?
Sinceramente, tenho dúvidas sobre isso. Tenho vontade dizer que gosto das imagens do São Francisco, e também de cachorros boxer. Que sou do interior, mas gosto muito dos prédios altos da Avenida Paulista. Que certa vez dancei catira no palco e fui ver estrelas no pasto. Quando tinha 8 anos escrevi para Lucília Junqueira perguntando o que ela achava das histórias que eu queria escrever. Começo 10 livros e levo um ano para acabar todos.
Eu suspiro rápido, pensando em quem eu sou, enquanto repito decorado a todos que me perguntam diariamente sobre minha vida: sou socióloga, moro sozinha em SP há dois anos, estudei Direitos Humanos e Gênero...blá blá blá...
Na faculdade, vivi tudo menos sociologia. Pra SP, vim por causa de um homem e de um sentido. E nas aulas de Gênero, bom mesmo era quando elas acabavam, e eu e minha amiga Erica íamos para as ruas geladas de Montreal ver os prédios e fumar cigarros caros.
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O Castro famoso não me interessa agora, mas sim um outro, que leio regularmente e me inspirou a falar sobre a prisão de ser quem querem que sejamos. Alex, me permita, por gentileza, falar das tuas letras.
Eu não sei como cheguei ao site dele, e nem entendo direito esta mania estranha dele por pés. Mas entendo uma coisa: ele teve uma sacada bem legal ao começar a escrever sobre "
as prisões".
Dá raiva ler o cara. Ele cospe as palavras na tela, e tem bom humor afinal. Ele não tem muitos pudores em falar a merda que quiser, enquanto eu fico preocupada de ser quem eu sou na frente dos maiores amigos, quiçá de pais, parentes, colegas.