Sobre a solidão das portas de apartamento

Este fim de semana aconteceu algo bem esquisito comigo e com minha família. Um bandido maluco ligou para o meu pai e conseguiu convencê-lo de que eu estava em seu poder. Exigiu resgate e tudo (curiosos: eu valho somente 5 mil reais). Só que eu, bem sossegada, estava no cinema em SP. E com o celular desligado por 2 horas.

Bem, vocês podem imaginar meu pai na delegacia anti-sequestro, minha casa em Sorocaba cheia de gente, dez mil ligações para meu celular, meu irmão ligando para qualquer ser humano que já me conheceu para saber do meu paradeiro, meu ex-namorado tendo que ir na minha casa falar com o porteiro... enfim, uma baita confusão e um susto enorme.

Depois desta loucura que tomou conta da minha família, parei para pensar o quão absurda é a vida que levamos. A pessoa que tinha as melhores informações sobre mim era o porteiro do meu prédio, que eu sequer sei o nome.

Ele sabia o nome da rua onde eu morava, e o número do meu apartamento. Coisa que minha família não sabia, e duvido que algum amigo saiba. Faz uma semana que meu irmão veio pela primeira vez na casa que eu moro há dois anos. Ele olhou no GPS do carro dele o nome da minha rua para avisar a polícia. Eles ligaram para pessoas que mal me vêem hoje em dia (haja saudades...). Os amigos com quem eu convivo hoje, eles nem sabem quem são. Ah, o porteiro sabia e os procurou.

Desde que saí do interior, ou da minha cidade que considero o lar onde fui criada e onde me tornei quem sou, eu não tenho mais laços duradouros com ninguém. Ninguém sabe da minha vida, eu nunca vi quem são meus vizinhos direito, e não tenho mais amigos de infância quando bastava eu cruzar a rua e estaria amparada. Não tem aquelas velhinhas que te viram nascer, que sabem de você e de sua família, que estavam ao seu lado quando a sua mãe descobriu que estava com uma doença ruim. Não tem grandes amigos que te amparam em toda situação boa e ruim, que simplesmente assistiram televisão à toa com você, ou andaram pelo bairro para ficar com você e fazer nada enquanto crescíamos. Não tem vizinhos de frente festeiros, que você abria a cortina para olhar lá fora, e já era convidado para uma ou duas cervejinhas na calçada.

Quando este episódio do sequestro aconteceu, todos estavam nervosos, e eu fiquei arrasada por ver meus pais chorando no telefone. Mas, mais que isso, fiquei imensamente triste por estar aqui, longe da minha história, construindo um caminho que é bom e é só meu, mas é um caminho solitário. Meus pais tinham 10 amigos na sala, os consolando. E eu sentei no chão e conversei com o porteiro.

Ontem eu fui ao shopping sozinha, entrei no cinema, e não assisti o filme até o final. Depois da confusão, à noite, fui ao teatro sozinha, e também não vi o fim da peça. Hoje, fui a um parque lindo correr sozinha, e fiz um almoço lindo para mim mesma, e estudei à tarde sozinha. No fim do dia, vim pro centro de SP, pra Augusta, lugar de toda pessoa que, como eu, está sozinha aqui, e pode fingir que é cool lendo um livro pequeno, em uma cafeteria qualquer.

2 comentários:

Robson Catalunha disse...

Sem comentários! O silêncio diz muito mais do que as palavras. Eu li seu post e..........

....pensei!

Rafael Calvin disse...

nossa que história ein e real! e que lindo seu modo de escrever!
que bom que vc tem consciencia de muita coisa que se passa contigo e é fria na analise da solidao pos-moderna...que é mesmo cruel.
Beijos e saudade amiga

ligue
beijos
calvin

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