Um copo a mais de café - para a estrada


Depois de uns dois telefonemas rápidos, eu sabia que o rapaz estaria no local combinado, quinze minutos antes. Era o tempo dele se familizar com os sofás, os garçons e as revistas nas prateleiras. Iria pedir uma água, enquanto lia algum livro de orelhas gastas. E iria me receber com o mesmo sorriso nos olhos de anos atrás.

Eu temi não saber o que dizer, ou não me sentir mais tão feliz ao seu lado como sempre me senti. Mas todo o meu medo se dissipou ao contemplar em cima de uma cadeira a mesma blusa de lã amarela e gasta que tantas vezes eu já tinha abraçado. Tudo estava exatamente no seu lugar.

E pude conversar por horas, e saber as novidades, e rir, e brincar, saber de coisas tristes e outras bonitas, falar de livros e coisas sem importância, e olhar no relógio e ver o tempo correndo estupidamente rápido. Os encontros são desculpas bonitas para deixar o amor correr fluido e fazer seu papel simples.

A conta já estava na mesa, e saímos. São Paulo tinha aquele brilho amarelado da chuva por todos os lugares, os carros e ruas brilhando, a avenida Paulista amarelamente triste, com jeito de adeuses. Lá íamos nós mais uma vez nos despedir sem dia para voltar.

Meus olhos ficaram cinzas e molhados como a cidade, quando enfim respirei fundo e entrei num ônibus barulhento, deixando você e minhas melhores lembranças de amor e amizade para trás.

2 comentários:

Anônimo disse...

poxa, agora eu tb vou querer ver seus pes!

Olhares e Lentes disse...

Poxa, por alguns instantes me vi transportada para minha cidade, São Paulo. Pude lembrar extamente dessa melancolia por você citada!
Adorei seu texto!
Beijos!
Valéria Piceda

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