Lembranças amarelas, roxas, laranjas



A infância para mim tem gosto de compota de fruta feita em casa. Geléia de jabuticaba, geléia de morango, doce de figo inteiro, doce de goiaba em pedaços, mamão açucarado cortado bem fininho, meu pai comendo doce de abóbora com um garfo, de dentro do pote mesmo. Meu pote de doce de goiaba, mais cheiroso que tudo nesta vida.

Eu não tinha pés de frutas no apartamento onde morava, mas minha mãe conseguia sempre as mais bonitas, mais maduras, ou cheias de cal, nas feiras de bairro onde íamos. Eu fui uma menina carregadora de sacolas, cheias de todas as verduras e frutas que eu mais gostava. Chegando em casa, punha as sacolinhas em cima da mesa, e sentava em cima da pia no meu lugar favorito. Dali, podia observar minha mãe mexendo panelas por horas. Até hoje não entendo por que é que nunca aprendi a fazer os tais doces e compotas.

Ia para casa de minha avó, e subia na goiabeira com minhas primas. Um dia, meu avô cortou a goiabeira e nos deixou órfãos de árvore de vó. Lá, na mesma cidadezinha, íamos visitar mangueiras centenárias. O lugar era mágico, inventávamos mil histórias de como elas haviam sido plantadas por nossas tetravós. Dezenas de mangueiras bem cheias, mangas muito maduras, mangas voando sobre nossas cabeças, espatifando maduras no chão. O porta-malas do carro lotado da fruta amarela. Mangas pequenas, enormes, rosas, amarelas, laranjas. A gente colocava tudo numa bacia de lavar roupas gigante em cima da mesa da cozinha, e toda hora roubava uma para comer no quintal. Minha avó, sempre lambuzada de manga.

Quando parei de subir em árvores e fui tomada pelo amor pela primeira vez, matava aulas para colher amoras. Na minha escola havia muitas árvores, mas num canto, juntinhas, uma dezena de amoreiras. O rapaz gostava delas, mas eu não. Eu gostava era da graça de passar muito tempo olhando ele colher e comer. Pegava as maiores para mim, me dava várias nas mãos: come, é bom.

Fomos para casa, namoramos muito. Muitas horas. Minha mãe chegou: susto. Ela trazia um balde de amoras.

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O menino do balde de amoras se tornou escritor. Tem textos lindos dele, aqui: http://enguiacega.blogspot.com/
Em meio a tantos, achei referências às amoras também.

1 comentários:

Anônimo disse...

Que bom que deixei doces lembranças na sua saudade!
Aqui em casa sempre vai ter um docinho de fruta a sua espera!

Volte sempre para casa....sempre estou te esperando!!!


Momy!

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