Namoradas



Tá certo que foi rápido, tá certo que era pra você ficar comigo. Mas terminar o namoro no dia 12 de junho não me pareceu a coisa mais certa a fazer. Ela iria te odiar pra sempre. Avisei. Não teve jeito. Acabou, você disse.

Inventei um rosto pequeno pra ela. Em meus pensamentos, ela era mignon, tinha olhos escuros e cabelos marrons, sempre me olhando meio ressabiada. Aquele dia nossa viagem de ônibus demorou, nossa carona demorou, e nossa tarde ia já acabando quando vi teus amigos pela primeira vez. Fumavam uns cinco sentados no chão. Bigode. O Pizza. Juca. Gordo.

- E eu sou a Ju-li-a-na - me disse com todas as letras bem pronunciadas, evitando o apelido, me olhando com olhos verdes imensos.

Era ela, então. Enorme. Ruiva. Preenchendo a calçada com um sorriso branco, largo e bonito.

Não tinha coragem de te olhar muito. Soltei minhas mãos das dele, como que por respeito. E você contava histórias pro pessoal, fumava e bebia com leveza. Estava se divertindo um pouco com meu mau jeito.

Precisava pegar uma cerveja, fazer qualquer coisa com as mãos. No balcão, minha garrafa já comigo, te olhei sentada no chão, o namorado mais ao longe espiando. Foi o tempo de respirar fundo e a garrafa explodiu. Em cima de mim. Acima de você. Muita espuma deslizando bonito e diretamente rumando pra sua cabeça ruiva. Não tive reação. Não me movi. Todos nos olharam esperando teus gritos e teus tapas. Eu corri os olhos para o rapaz, olhos arregalados do choque, tirou a garrafa da boca e permaneceu com ela aberta.

Olhei pra baixo em pânico. Ia se levantar. Ia gritar comigo. Ia sair chorando. Esperei tudo de você nos três segundos que ficamos paradas nos olhando.

Mas, você olhou pra cima e... riu. Gargalhou. Mostrou o resto dos dentes grandes numa risada ótima que quase me fez chorar. Eu me sentei na poça ao teu lado e rimos juntas, muito, pela primeira das muitas tardes que passaríamos juntas.

Eu aprendi a gostar de você e a sentir tua falta. Você aprendeu a respeitar o que acontecera, tirou a culpa de cima de meus ombros e me deu de presente uma amiga.

Lembra quando o namoro acabou? Te procurei pra dizer que agora sim, entendia você. E, bebericando sentada na tua cozinha, te falei:

- Poxa, cara difícil, não?
- Por isso terminamos - e sorriu.

1 comentários:

migrañaloco disse...

muito bom, viu.

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