Capítulos finais

Capítulo I

Não deu tempo de fechar a casa. A moça saiu tropeçando escada abaixo, rua abaixo, ladeira abaixo. O papel nas mãos, sem dobrar. Entrou em um prédio enorme e, de sala em sala, enfiava a cabeça lá dentro.

- Desculpe, professor.

Deu sorte. Na terceira ou quarta porta o encontrou. O rapaz era calmo demais para se assustar. Saiu lentamente da sala. A garota atirou o papel no chão e sentou num banco. Não olhava pra ele.

O garoto recolheu o papel suado, e leu andando devagar. Linha por linha, precisava saber o tamanho do estrago. Seu texto com nome de mulher do Jobim tinha trazido sua garota até ali. Levantou a menina pela mão.

- Eu vou te levar pra um lugar que eu adoro.

Eles subiram montanha acima sem trocar palavra. As pessoas em cadeirinhas nas ruas olhavam o casal de mãos dadas, a universidade ia ficando para trás.

Sentaram em cima de um poço velho, num lugar tão alto que quase era possível ver as cinco torres das igrejas da cidade. Eles deitaram no cimento frio e ficaram um tempo olhando pra cima.

- Acabou, né.
- É, acabou.
- Tudo acabou.
- Te amo.
- Também.

---------------------------------------------------------------

Capítulo II

- Oi.
- Oi, e aí?
- Beleza, e você?
- Também.
- E o trampo?
- Tranquilo.
- Teve um bom dia?
- Normal. Escuta, espera.
- Que foi?
- Um minuto.
- Tá fumando?
- Acendendo.
- Devia fazer coisa melhor com a boca.
- Claro.
- Fala. Que foi?
- Nada. Escuta. Queria te falar uma coisa.
- Fala. Tô na correria aqui. Tenho uns minutos.
- Eu não te amo mais.
- Oi?
- É isso, não te amo.
- Claro. Olha, quando eu chegar em casa, a gente conversa. Que papo louco é esse?
- Sinto muito. Tenho que ir.
- Ir aonde?
- Embora.

------------------------------------------------------------

Capítulo III

A menina ia embora, eu já sabia faz tempo. Mas então que fosse em grande estilo. Preparei uma festa, chamei as pessoas, arrumei bebida. A casa era pra festa, o quarto era só pra gente. Uma hora, a gente ia ficar sozinho. Festa à fantasia. Enrolei uns panos na cabeça, meio sem jeito. Ela chegou vestida dela mesma.

Dançamos, bebemos, fumamos. Fizemos guerra de neve lá fora. O pessoal foi minguando. Deitei na cama, ela ainda organizando a casa. Adormeci. Senti quando ela veio pra cama, e dormiu também.

No dia seguinte, acordei cedo. Último dia dela no país. Fui fazer nosso café com mapel syrup, como ela gostava. Encontrei a louça lavada e um bilhete na mesa limpinha: À bientôut, mon poil.

----------------------------------------------------------------

0 comentários:

Postar um comentário