Descobrindo Deus



Bem no meio da noite, quando as estrelas já estão baixas, mas o sol ainda não começou a esquentar o mundo, me pego lendo todas as letras do Milton. Eu tinha uma resistência imensa a gostar dele. Ouvia sua voz delicada e dizia não me agradar. Insistiram. Eu neguei.

Um dia, me deu saudade de ouvir uma música simples, visceral, verdadeira. E lembrei de um álbum, o Clube da Esquina. Parei para ouvir uma, duas, mil vezes seguidas, como uma livro lido e relido. Foi ali que fui finalmente apresentada à voz do Milton, que é única. Sei que estou sendo infelizmente redundante, mas é o que sinto. E este caráter de singularidade me impedia de amá-lo.

Eu ouvi o mineiro até cansar a todos. Ouvi tudo que pude. Seus versos eram tão bonitos e sua tristeza tão verdadeira, seu amor tão sofrido. Uma incrível densidade em poucos versos. Parceiros incríveis, sempre homenageados por uma interpretação perfeita.

Ele gravou canções de folia de reis.

Milton me faz sorrir e chorar junto. O sorriso é encantamento, o choro sou eu vazando diante de tanta Beleza. Tem muita coisa dele que me deixa assim, mas nada é melhor que Travessia.

Os acordes ressoam dentro de mim de uma forma tão pesada, cada um deles, que só de escrever sobre esta música, tenho que parar para ouvi-la. Ela é tão linda, que quase chego a acreditar que Deus existe.

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