Quando eu tinha uns 15 anos, tive um ótimo professor-ator, muito adorado pelos alunos. Algumas semanas depois do início do ano letivo, tomei uma bronca por não estar com meu caderno na mesa, copiando os resumos que ele passava na lousa em todas as aulas.
- Menina, cadê teu caderno?
- Ué, professor, eu não tenho.
- Como não?
- Ué, nunca tive. Eu sempre trouxe só o livro.
- E por que não está copiando a matéria?
- Porque este é o seu resumo, não o meu.
- E onde está o seu?
- Está na minha cabeça.
O professor não entendeu muito bem o que eu estava falando, e fui passear na diretoria.
O que quero mostrar com esta história é que eu sempre pensei que se eu quisesse saber alguma coisa, podia ler. Podia pesquisar, não precisava de alguém mastigando e me dizendo o que prestar atenção, o que reter. Os resumos dele eram sua opinião sobre o que ele julgava importante. Para mim, seria bem legal ler sobre a França de 1700, sem problemas. Mas eu podia querer entender por que o salto alto parou de ser usado por um tempo depois da Revolução Francesa. Eu devia decidir o que queria aprender. Saber, por exemplo, por que diabos eu estava estudando história francesa e não chinesa ou árabe.
Hoje, ao desistir da segunda pós-graduação em dois meses, decidi que eu não vou me enfiar em nenhuma escola pelos próximos mil anos. Explico meus motivos, verão que são razoáveis.
Eu vivo em um mundo onde a informação está muito disponível. Quando leio sobre a Dilma e o dossiê na Folha, logo corro nos blogs jornalísticos que vão desmantelar o que o jornal afirmou. Quando leio um artigo positivo sobre Hugo Chávez, em cinco minutos descubro dez sites de movimentos anti-chavistas, e comparo tudo. Quando quero saber quando e como surgiu a parada gay no mundo, três cliques. O cara que estou saindo namora e está sacaneando a garota comigo? Orkut. Onde vai ter forró bom hoje? Internet. I just Google it.
Faço parte de várias redes, desde blogs, até comunidades virtuais de todo tipo, listas, fóruns, orkut. Não sabia usar uma função do Excel e fui perguntar, via MSN, para meu amigo que trabalha num laboratório em Pirassununga, a 300 km de mim. Resolveu meu problema muito mais rápido que um monótono e longo curso de informática dentro de uma sala quente.
Cheguei ao ponto que eu queria: nós frequentamos a escola por ainda não saber o que fazer direito. É mais uma questão de comodismo, que falta de opção.
Parece mais fácil sentar numa sala qualquer, com 35 pessoas com sono, ao invés de buscar informação, pesquisar, descobrir por si só, entrar em redes e conhecer pessoas. Na verdade, é muito mais difícil. Continuamos repetindo os mesmo hábitos de 100 anos atrás, e isso simplesmente não é possível. Precisamos mudar.
Eu quero voltar a estudar, mas não preciso de um ambiente formal para isso. O mundo está cheio de livros, teses, artigos, revistas, músicas, seminários, vídeos...eu posso perfeitamente trabalhar com tudo isso, sem sentar sábado cedo em uma sala e ouvir um senhor ler slides de power point enquanto tentamos não dormir. O pior é que ele é competentíssimo em sua área, e nos faria um imenso favor se sentasse para escrever mais livros, e nós o leríamos no parque no fim de semana.
Aliás, estou de volta ao orkut. A melhor comunidade que encontrei: SAIA DO ORKUT E VÁ LER UM LIVRO. Mas volte aqui para ler o blog de vez em quando.
1 comentários:
Mada, gostei muito desse texto seu. Aliás, concordo muito com ele, porém, a grande massa vive e pensa na média. Precisam de alguém para ditar-lhes as regras. Quem faz a diferença vai atrás como vc.
Aí entramos num paradoxo. Em outros tempos, grandes mentes se enfiavam em bibliotecas por semanas para construir uma idéia, privilégio dos poucos que desfrutavam de regalias da nobreza e não careciam correr atrás do pão. Hoje, a acessibilidade a informação possibilita a nobres, plebeus, e até "escravos" construir novas idéias, rejeitar as já existentes e/ou debater os absurdos a que somos submetidos todos os dias.
Mas não, vivemos num mundo com cada vez mais inércia, conformismo, pós-graduações com professores outrora geniais, mas que hoje, preferem industrializar a informação para que os preguiçosos possam copiar e ganhar uma linha a mais no CV.
Ainda bem que existem Madalenas! Apesar de, infelizmente, não me considerar um Madaleno.
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