Eu nunca fui a mais materna das mulheres. Nunca achei grávidas bonitas, ou fiquei muito empolgada com carrinhos de bebê. Na verdade, acho que tenho é muito medo de crianças. Elas estão ali, te olhando desesperadas por atenção. Te olham por baixo. Como é seu nome? Você é amiga da minha mãe? Você tem irmão? E qual o nome da sua professora?
Elas nos mostram o quanto é estúpida a conversa que travamos como adultos. Afinal, quer coisa mais importante e incrível que um chocolate de tartarugas com ovinhos dentro? E a gente ali, discutindo se o prefeito asfaltou ruas o suficiente. Mas tia, olha, a tartaruga pôs ovos. Tartarugas tem muitos bebês? Meu amor, elas têm uns 50 milhões de filhotes, mas nenhum é tão bonito quanto você.
Eu não tenho filhos. O que sei de bebês aprendi em seis meses, cuidando de três meninas. Com a mais velha (quatro longos anos) aprendi que deve ser difícil ser deixada para trás. Deve doer ser a última da fila, a de quem esperam sempre mais, a que entende melhor as brigas dos pais. Georgina era tão inteligente que nos enganava, nos punha de joelhos, me fazia brincar de Barbie por umas mil horas por semana, e ler sempre o livro mais longo de todos, para evitar a cama. Assim, sabia as histórias mais absurdas, se fingia de atriz para nós, me enlouquecia. Na minha despedida, trancou-se no quarto com os livros que eu lia para ela. Ei tristeza que deu, meu amor.
A segunda, de dois anos, era a mais feliz dos bebês. Sorria gorda dentro de seu enorme macacão de neve e se jogava de bunda na escada, nos deixando malucas de medo. Era a mais beijada e a mais querida, porque doce e suave. Acordava com pesadelos no meio da noite e gritava pela mãe, mas se eu atendia ela ficava bem feliz e dormia. A coisa mais linda que me lembro dela foi um prato de comida jogado no chão e uma risada imensa. Pura felicidade do barulho, da bagunça, do susto. E a gente ralhando com ela e se segurando pra não rir também. Emma, don´t do it again!!!! - e o bebê, com o olhar mais tranquilo do mundo - Carol, I love you.
A última tinha seus poucos meses, e era quente e mole. Em algum tempo, me reconhecia e me olhava nos olhos, me pedindo ajuda para comer, beber, se limpar, brincar, dormir. Ela precisava tanto de mim que eu não era capaz de lhe abandonar da área de meus olhos por um minuto. Depois de tantos banhos na pia, tantas febres, duzentas trocas de fraldas, muitas músicas brasileiras pra ninar, enfim Fiona sorria pra mim ao acordar.
Eu acho que foi assim que eu finalmente aceitei que, em algum lugar escondido aqui dentro, vão caber duas ou três crianças um dia.
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