A memória é coisa dos diabos. Eu herdei a falta dela de família. Meu pai sempre diz que não consegue lembrar de nada da vida dele, nem da de ninguém. Eu, parecida, não aprendo com os erros, não decoro nada, não lembro de coisas ruins e lembro pouco das boas, além de ter a mania constrangedora de esquecer rostos e nomes. Mil vezes me apresento ou cumprimento a mesma pessoa.
Eu vivo sempre em algum lugar distante, passado ou futuro, sem jamais focar no presente. Nunca temo o presente ou presto atenção nele.
Talvez por isso esta necessidade de viver a mil por hora, de imprimir marcas fortes em mim, e contar, contar, contar tantas histórias. Através de tanta intensidade, eu estou tentando é não deixar a minha própria existência deixar de existir.
Hoje voltei a ler Proust e sua obra prima: é simplesmente a coisa mais perfeita que já toquei os olhos literários. Cada linha merece cinco minutos de pausa. Leio poucas páginas, volto dez frases atrás várias vezes. É somente na literatura que me sinto mergulhada no presente.
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