Velho poeta novo



Tenho amigos literários, graças. Não literatos, daqueles chatos que ficam discutindo a influência de Homero em Shakespeare. Ora, vão ler Homero e Shakespeare e fiquem quietos. Detesto discussões literárias, e tenho pavor de pessoas que, ao saber que gosto de ler, se põe a "discutir" literatura comigo. Eu não leio autores, eu me inundo de palavras e mundos novos. Para mim, melhor é o autor que mais me assusta. Ou encanta. Ou faz algo que nunca vi, torce as palavras, me mostra imagens que nunca vi ou vivi. Lêem o mundo de uma forma que nunca aprendi a ler.

Tenho tanta dificuldade em lembrar nomes de livros e de autores quanto tenho de lembrar o rosto de pessoas com quem dancei. Eu me lembro fortemente da sensação de trincheira, de gente entocada, uma sensação de medo e brevidade da vida - que senti ao ler Grande Sertão. Mais que isso, me lembro da exposição que fui e dos potes de água com palavras reviradas no fundo. Agora, vamos discutir se o Rosa merece um Nobel? Ora...Sartre recusou o Nobel. Isso sim é poesia.

Os livros são para serem lidos. A única coisa que me permito comentar sobre eles é sua beleza ou feiúra. Por exemplo, gostei muito de Hemingway e de Fitzgerald; porém, é preciso lê-los juntos, vários livros intercalados, um e outro, um e outro, e nos intervalos assistir um documentário sobre a construção do Empire State, homens-operários em preto e branco se balançando nas estruturas. Mal me recordo dos nomes das obras mas...quanta beleza!

Hoje estou feliz porque li pela primeira vez Mário Quintana.

Eu fico pensativa em manhãs frias e cinzas. A mente amanhece vazia - sou uma pessoa das manhãs ensolaradas, facilmente influenciada pelos tons do céu. Agora, meu pensamento é delicado e bonito, graças ao velho novo poeta que descobri.

Foi diante deste pequeno texto que este aqui, maiorzinho, surgiu.

Bilo-Bilo

O idiota estilo bilo-bilo com que os adultos se dirigem às crianças, isso deve chateá-las enormemente, como a um poeta quando abordado com assuntos "poéticos".

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* Cuidado com a internet...têm muitos textos voando por aí que não são do Quintana e estão assinadas com o nome do gaúcho.

Sites confiáveis:

Homenagem do Governo do RS a Quintana

Releituras - Quintana


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2 comentários:

migrañaloco disse...

Acho que é do Quintana o que eu li sobre alma "alma é essa coisa que nos pergunta se alma existe". E, uma das minhas poesias favoritas é dele também! Ô hôme arretado de bom!

(...)
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

*Mario Quintana - Nova Antologia Poética, 1998

Identidades Fragmentadas disse...

Em seu post, pareceu-me Bakhtin falando. Ele, em sua poética russa, sempre dizia que as pessoas se inundam de palavras, e que como se fossem grávidas, as pessoas, parem palavras ditas por outrém

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