Histórias - fragmentos amorosos



Manu nunca tinha namorado. Um dia, sentiu que era hora de se libertar. Deixou de alisar o cabelo, pôs um batonzão rosa e resolveu sair pra dançar sozinha. A noite inteira pulando. Do outro lado da pista, um rapaz bebia quieto. Sem pensar muito, arrastou as sandálias até ele e falou com sotaque nordestino forte - Tu vai sair comigo hoje ou agora? E lá se vão seis anos bem grudados.

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Nando conheceu Maria numa reunião de partido. Ela tinha uma risada indecente de alta. Ele, sem ter onde dormir naquela noite paulistana, pediu abrigo da militância: "questão de ordem". Ela ofereceu o sofá da casa. Ele acordou cedo pra fazer café. Já faz uns cinco anos que eles dividem o sofá, a cama, a casa, a panfletagem...

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Laura chorou todos os meses de férias da escola, quando seu namorado de longos anos anunciou que engravidara outra mulher e teria que se casar com ela. Medrosa ainda, chegou atrasada no primeiro dia de aula depois do fim de ano fatídico. Entrou na sala com os cadernos nas mãos, pedindo licença ao professor. Ouviu então um assovio ridículo: um garoto, muito mais novo e completamente sem noção estava mexendo com ela na frente de todo mundo. Todos caíram na risada. - Que idiota completo! - pensou. Onze meses mais tarde, entravam na igreja de branco e azul marinho. De longe, ela o vê no altar de terno, bonito... mas de meias brancas!

- Que diabos, que meias são essas?
- Michael!

Ainda ontem, trinta anos depois, eu o vi matando ela de vergonha enquanto imitava o cantor no meio de uma quermesse.

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Sonia nasceu em fazenda, cidade bem pequena. Bem cedo, saiu sozinha para enfrentar a vida em São Paulo. Um dia, feriado, visitando os pais no interior, foi a um baile. No meio de tantos conhecidos, um cabeludo, baixinho de enormes bigodes olhava sem parar. Conversaram. Dançaram. Foram saber que ele era seu vizinho na cidade grande e passava férias ali a convite de um conhecido. Eles têm o casamento mais bonito que conheço, e há quase quarenta anos dançam no mesmo baile, igual ao dia que se conheceram.

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Uma homenagem a todos aqueles que ainda acreditam no amor e aqueles de quem emprestei suas histórias para este post. Você tem boas histórias? Me conta.

3 comentários:

Gabriela disse...

Lindas curtas historias Carol! Adoro seus insights literarios!
Beijos, Gabi

migrañaloco disse...

Cada vez vc me surpreende mais. Ótimos textos!!! Vc é uma pessoa iluminada!
Beijo enorme

Manu Berlanga disse...

Cáá....
Posso falar q essa primeira história a da Manu...é bem parecida com a minha e do Octavio!!! Não só os nomes...mas tb, pq nos conhecemos numa festa...ele veio e me chamou pra dançar...e lá se vai dois anos apaixonados (entre trancos e barrancos é claro...)

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