(Sem título)



- O cara é um anarquista petit burgeoise. - enunciou como se eu entendesse alguma coisa. Eu só estava dizendo que o livro era chato, que o café era bom, e que o tempo parecia que ia mudar. Passei uma tarde inventando frases para você continuar sentado naquele sofá branco. Estava com medo danado de você me chamar para ir embora e eu ter que entrar naquele apartamento pequeno.

Guardou o livro na sacola e se levantou. Enfim, era a deixa.

- Vamos? Lá em casa faço mais café. A gente pode ouvir alguma coisa também. Chegaremos antes que chova.

O rapaz morava num lugar estranho e era preciso um molho de chaves enorme para abrir as várias portas. O velho elevador sacudia um pouco, a porta se abria num tranco.

Entramos numa sala toda marrom, uma toca de livros e coisas marrons. Alguns retratos de família, uma avó, um pai e um quadro do rosto de um homem marrom. Enquanto ele procurava a lata de pó de café, acendi um cigarro na janela.

Voltou, com uma mão tirou meu cigarro e enfiou no cinzeiro, e com a outra me segurou pelos cabelos e me deu um beijo. Um beijo esperado, meio consentido, seco, curto. Um beijo esquisito. Com as duas mãos geladas, tirou minha blusa de lã e me puxou pro sofá. Levantou minha saia e fez tudo num silêncio tão intenso que eu podia ouvir as marteladas da construção em frente enquanto ele estava em cima de mim.

Educadamente, pegou meu cigarro de volta, acendeu novamente, e me deu.

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1 comentários:

Gabi Santos disse...

Belissimo! Bravo, bravissimo!

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