Reencontros



Eu não me lembro da minha primeira mudança. Eu tinha 4 anos e uma mãe e pai aventureiros. Nós, mais um irmão de colo, em 72 degraus para chegar até o quarto andar chegamos onde eu passaria toda a minha infância.

Das memórias mais consistentes que tenho daquela época, brincadeiras e amigos.

Ser criança de prédio não tem nada de ruim. Ao menos, no meu não tinha. Éramos um grupo imenso de meninos e meninas gritando nomes nas janelas, tocando a campainha dos outros e correndo para todo lado, se pendurando em bicicletas, patins, caindo, se machucando, quebrando braços e dedos, brincando na areia, escorregando na grama, e correndo, correndo, correndo.

Tinha o velhinho implicante que no fundo adorava a gente. Ele construiu um banco de madeira para os vizinhos olharem a rua e conversarem. Sua mulher também bem velhinha tinha um jardim de rosas só dela - e nos deixava pegar uma flor somente uma vez por ano, no dia de Nossa Senhora Aparecida, para entregar na igreja.

- Ca-cá!
- Tô descendo!

Uma vez, brincando de esconder, corri atrás de uma rampa e não vi um cano. Arrebentei ele com as costas. A água jorrou. Voou em cima de mim muito forte mesmo, me jogando pro chão. Encharcada, fui chamar o zelador chorando. Éramos muitos e muitas as confusões também.

Tinha pequenos grandes amigos. As lembranças mais forte que tenho são cinco deles: Helô, Lã, Sil, Danilo e Caio. Com as duas primeiras, nunca perdi o contato. A terceira, reencontrei este mês passado, quando comecei uma busca pelos meninos e acabei achando a Sil. Os dois últimos, reencontrei hoje.

Todas as brincadeiras do mundo cabiam ali naquele prédio, e toda minha memória afetiva ainda cabe.

Hoje é um dia feliz, porque quando reencontramos nosso próprio passado, é como se olhar num espelho e ele te dizer: menina, você cresceu.

1 comentários:

Identidades Fragmentadas disse...

Hey, Loved it!

Paraceu que estava memorando meu passado!

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