Melhorando



Uma vez menti dizendo que sabia cuidar de crianças. A mulher, desesperada, deixou três comigo. Uma tinha quatro anos, a outra dois e a última ruivinha quatro meses. Em uma semana eu sabia brincar de Barbie e fazer boneco de neve, cantava músicas e inventava coreografias no meio da sala, lia história no banheiro tentando convencer alguém a deixar as fraldas, todo dia, por uma hora inteira sentada no chão (e eram somente dois livros de dez páginas que ela queria ouvir). Sabia fazer os peixes de plástico nadar na banheira, e dar banho em bebê na pia. Tudo isso é instinto e um pouco de jeito de matrona italiana que herdei dos parentes.

O que achei meio esquisito foi o que aconteceu depois. Sozinha com elas, eu me sentia a pessoa mais responsável, maior, mais alta, imensa, mais esperta, mais rápida, mais cuidadosa. Eu criei mil olhos novos. Lembrei de músicas infinitas e tantas histórias que não cabiam aqui. Eu não sabia que ter crianças por perto fazia a gente ser uma pessoa melhor. Eu não sabia que era possível amar tanto coisas tão pequenas.

Com elas, aprendi que se a reunião em família está insuportável, procurar a criança por perto costuma funcionar como analgésico pra chatice dos adultos. Sempre há diálogo dos bons com os pequenos, corridas e brincadeiras muito mais interessantes que a nova crise no Senado. Em minha família quase não temos crianças - temos uma! Nos EUA. E assim nunca convivi com elas direito.

Enfim, há pouco tempo minhas amigas mais próximas começaram a ter seus filhos. Tentava me adaptar a nova realidade dos assuntos, às lojas de bebês, aos chás de bebês, ao fim das nossas saídas. Eu sempre tive medo da gravidez e as olhava, olhava... apavorada. Não estava muito confortável com tantas mudanças.

Um dia, grande amiga em casa, barriga imensa no meu sofá. Eu olhando pus a mão. Miguel me deu um chute forte. Comecei a chorar feito besta: não é que tinha uma pessoa ali dentro que eu nem tinha visto e já amava?

Não vejo a hora de ter mais crianças por perto. Ser tia é tudo de bom.

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* Dedicado às amigas que já são mães, e me deram de presente pessoas impossíveis de não amar.

* Na montagem, primo Lucas (da Lili), Miguel e Maria Rita (da Fabi), e Kaká (da Lã).

2 comentários:

Fabiana Laís disse...

me fez chorar no meio do trabalho... feliz por te fazer melhor!!!

amo demais vc!!!!

Anônimo disse...

Adorei o texto, de verdade. Eu tbm sou um titio fresco...rs, e estou curtindo demais a pequna Maria toda vez que ela aparece em casa. Pôxa vida, é verdade, de repente a gente se vê sendo referência, ensinando, cuidando...enfim, é tudo de bom. Agora é só esperar a hora de fabricar os meus próprios...rs. Bj!
Sall
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