Prisão


Texto de Abril de 2009

Dizem que estamos condenados a ser livres. Eita coisa bonita de se pensar, e dolorida também. Estou condenada porque não pedi pra nascer, mas uma vez que fui jogada neste mundo. A liberdade são minhas escolhas, obrigatórias, que definem quem sou.

Mas não adianta olhar pra mim com cara de quem entende: não, eu não sou livre. Eu estou presa a dogmas, a culpa, a moral católica, ao gênero feminino, a identidade brasileira, aos papéis todos que tenho que desempenhar: filha, trabalhadora, neta, amiga, liberal, irmã, amante, de esquerda, namorada, etc.

O problema só começa a existir quando passamos a pensar um pouco mais por nós mesmos, e vemos que nossas idéias assustam um pouco. E foi o velho e bom tema da monogamia que me fez escrever hoje.

Mireveja: eu sempre namorei muitos anos. E sempre fui monogâmica. Porém, nunca deixei de compreender os que não são. Eu entendo a violência que é se manter interessada/o na mesma pessoa por anos a fio. É uma renúncia imensa, em prol de algo que tem que ser muito, mas muito bom. E já vivi isso, então entendo quem resolve ficar mesmo com uma só pessoa. Mesmo assim, sabemos que o encantamento tão forte, este aí capaz de produzir uma monogamia espontânea, dura somente no começo. E depois?

Eu vejo todo o sofrimento, especialmente masculino, diante desta violência. Sim, porque nós mulheres somos educadas a ficarmos bem quietinhas esperando por um cara trilegal que nos ame e nos respeite. Por isso não vamos tanto à luta, ou a caça, como alguns preferem dizer. Entretanto o homem, educado para a poligamia, realmente sofre uma castração meio violenta quando namora ou se casa.

O melhor casal que conheço mantém uma relação aberta. Eu acho que eles funcionam muito bem juntos, têm menos ciúmes, respeitam os espaços do outro, suas privacidades. Sei que não é fácil para nós, o lado de cá. Ninguém consegue conceber seu amante/namorado saindo com outras, embora saibamos secretamente que os homens fazem isso freqüentemente, mesmo que não queiramos.

Eu considero a monogamia um mal necessário para fazer bem ao parceiro, uma proteção do ego do outro, uma afirmação meio boba de que somos as pessoas mais especiais do mundo para alguém. Por isso, quem trai, faz escondido. Continua protegendo o outro. Mesmo em relacionamentos abertos, é preciso haver algum respeito semelhante.

O mundo está lotado de pessoas interessantes, gentes de todo tipo, cada um com coisas incríveis para ensinar, histórias lindas e cheias de paixão para viver. E ficamos aí, castrados.

Eu entendo que o casamento tenha suas funções sociais, mas não venham me dizer que é fácil mantê-lo. Hoje, 1 em cada 2 acabará em divórcio em menos de 5 anos.

Podem xingar a vontade, mas sejam educados.

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Querem ler mais sobre o assunto? Vejam o blog do Alex, que discute algumas prisões. Tô cansada de indicar o cara, mas adoro mesmo. Vale a pena.

A prisão da monogamia

Textos do Alex sobre relacionamentos

1 comentários:

migrañaloco disse...

Falar O QUE pra vc? Justo nesse momento que tenho me questionado tanto sobre relacionamento, sobre ciúmes, sobre respeito e confiança... enfim, é complicado ser livre presa em tantos dogmas, como vc msm disse. Ultimamente tenho sentido isso na pele... Texto ótimo, querida, nem um pouco ácido. Realista!
Beijo enorme

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